Coluna Aparte – Naquela mesa

Nunca imaginei que escrever uma homenagem para um amigo seria difícil, o pensamento gira na cabeça, parece fita de filme velho correndo na bobina. Jamais ousaria dizer que o jornalista Luiz Pedro tinha somente qualidades, um padrão formatado para atender aos que querem ser donos do mundo. Sua transgressão parava no limite entre o que ele acreditava e no possível ferir o próximo.

Precisava, mas nunca demostrou, uma expressão de medo quando enfrentava os políticos e seus pistoleiros, os coronéis e policiais uniformizados para exterminar, latifundiários e jagunços prontos para matar e enterrar na terra tomada das comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas. Luiz pensou que tinha vivido o pior do mundo cruel do poder, descobriu que não, tudo continua como tal na época das oligarquias.

Brilhantes textos, aguçado na investigação, curioso mastigador das palavras, acumulador de fatos, imune sobrevivente entre tantos deputados e gestores públicos corruptos, treinado para suportar como filho rígido de coronel da polícia militar e membro do Partido Comunista permitiu uma maturidade com a serenidade de saber que o hoje fica no passado. O amanhã está no espiral.

Grande sacana, gozador do humor refinado na rapadura cearense, sempre pegava um vacilo dos amigos para tirar o sarro, nunca esqueceu uma piada, sabia transformar tudo em causo do tipo quem conta um conto, aumenta um ponto. Bom frequentador de mesa de bar era fácil ser localizado com sua generosa gargalhada.

Guardou mágoas de quem mais esperava respeito, ficou estacionado nos sentimentos silenciosos. Irreverente, achou que podia partir para encontrar os mestres do notável saber. Egoísta, não deixou nos escritos os bastidores da militância política. Estava feliz na exposição das suas opiniões em Os Analistas e no Assim que É.

Confesso que estou zangado com o comunista Lulu de France, um entre milhares de apelidos que tinha, esse era o meu. Eu e Geraldo Iensen, queremos saber quem vai nos fazer sorrir ou cantar “Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim” todos os dias, nos intervalos do programa da TV Guará.

Nem vou me despedir, não sei o dia de amanhã!

  • Coluna Aparte publicada nas segundas-feiras, na página Política, no jornal O Imparcial. 

 

5 pensou em “Coluna Aparte – Naquela mesa

  1. A partida repentina do saudoso amigo Luiz Pedro, não só nos deu uma caluna de um grande amigo e profissional que era, mas de um ser humano admirável, íntegro, inteligente, um excelente analista político que sabia externar suas idéias sem ao menos desrespeitar os que não concordavam com suas análises… Sem dúvida, foi uma perda irreparável para todos nós, sobretudo pela figura que ele representava para os que o respeitava pela pessoa ESPECIAL que era. Luiz Pedro, presente!

  2. Texto primoroso, como o nosso saudoso amigo Luiz Pedro merece. Sentiremos sua falta, srmpre. #LuizPedroPresente!✊🏼❤

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